violência doméstica - manual para os media

informar para mudar

28 março 2005

As questões chave

1 – Como se reconhece um agressor?
Se inflige maus tratos físicos ou psicológicos não há dúvidas. Mas pode ser detectado muito antes de chegar a esta fase. São homens, fundamentalmente possessivos que exercem muito controlo sobre a mulher: se entra, se sai; com quem vai; como veste; quanto dinheiro gasta; se faz ou recebe chamadas – seja de amigos ou familiares – e que a desvaloriza, desautoriza ou insulta em público. E inclusivamente antes, na fase de namoro, há sintomas que podem ser um alerta para a mulher: antecedentes de condutas violentas com outras mulheres, familiares ou amigos; acessos de cólera repentinos e sem sentido; atitudes de crueldade (por exemplo com animais); falta de arrependimento ante os seus próprios erros, uma forma de pensar excessivamente rígida, convencido de que está sempre do lado da razão…

2 – Sou vítima de maus tratos, que devo fazer?
Procurar informação e aconselhamento num serviço especializado, como é o caso do Serviço de Informação às Vítimas de Violência Doméstica (linha gratuita 800202148, que funciona 24h/7 dias por semana), que pode indicar os apoio disponíveis na área de residência, os cuidados de segurança para a sua protecção e dos seus filhos e informação fiável sobre a forma de apresentar queixa às Autoridades.

3 – Bate-me mas depois pede-me perdão, jura que me ama e que vai mudar. É possível?
Não. As promessas de mudança são mais uma fase do ciclo da violência. Um homem bate, maltrata, pede perdão, inclusivamente oferece prendas. Fica calmo um certo tempo, depois repete os maus tratos e volta a pedir perdão. De cada vez as temporadas tranquilas são mais curtas. Regra geral, os agressores não mudam os seus comportamentos violentos.

4 – Será minha a culpa?
Não, de modo nenhum! Muitas vítimas culpabilizam-se a si próprias depois de episódios de agressões físicas e psíquicas. Esse sentimento de culpa provém da estrutura patriarcal: o homem é quem exerce a autoridade na família e a mulher sente culpa se não aceitar este poder violento. Mas os maus tratos não têm qualquer justificação. O único culpado da violência é o agressor, nunca a vítima.

5 – O que é o síndroma da dependência afectiva?
É um nexo emocional que impede a vítima de se separar do seu agressor. É muito frequente em mulheres maltratadas que vivem isoladas porque o agressor não as deixa relacionar-se com ninguém. Ele é todo o seu mundo, é o pai dos seus filhos, ela continua a acreditar que o ama. Uma espécie de síndroma de Estocolmo que a leva a justificar e perdoar continuamente as agressões e vexames do seu agressor e lhe paralisa a capacidade de agir e romper com a relação violenta.

6 – Sou estrangeira, maltratada e sem papéis?
Não deve ter medo de denunciar a situação. As Autoridades portuguesas prestam atenção a qualquer pessoa que precise, seja qual for a sua situação legal.

7 – É possível reabilitar um agressor?
É possível, segundo especialistas que trabalham em terapias de reabilitação de agressores. Mas o êxito da reabilitação requer várias condições: que o agressor se reconheça como tal, que tome consciência dos efeitos do seu comportamento e mostre motivação para mudar a sua atitude.
Em muitos casos a reabilitação é impossível porque o agressor perde toda a capacidade de racionalizar os seus comportamentos e de se responsabilizar por eles, tornando-se num potencial homicida
de grande periculosidade, que persegue a mulher mesmo após muitos anos de separação ou divórcio.
A reabilitação do agressor deve ser acompanhado de um programa paralelo de protecção da vítima, que por vezes obriga à sua mudança para outra cidade ou país.

8 – O que falha no sistema de protecção das vítimas?
A própria protecção das vítimas. Em Espanha, muitos agressores que tinham ordem de afastamento ocorreram em incumprimento porque as vítimas não tinham protecção real. Em Portugal a medida de afastamento do agressor é aplicada de forma incipiente.

9 – O que se pode fazer para prevenir a violência doméstica?
Mudar os estereótipos e valores vigentes. A violência é uma realidade social e cultural: ao longo da história – e ainda hoje – o homem foi identificado com a força e a mulher com a submissão. Mudar os estereótipos actuais supõe uma intervenção de longo prazo, a começar na educação das crianças e jovens como forma de investimento social na criação de uma nova mentalidade, de respeito pela igualdade.

10 – A apresentação de casos de violência doméstica nos meios de comunicação provoca mimetismo na conduta dos agressores?
Os especialistas entendem que não. Dizem que os meios de comunicação social desempenham um papel muito importante ao evidenciar a gravidade de um problema que antes não ultrapassava o âmbito familiar. Os meios de comunicação social servem para consciencializar a sociedade sobre o tema e para que as vítimas conheçam os recursos que têm ao seu alcance.
É porém necessário um grande rigor na transmissão da informação/notícia.

(Adaptado de El Mundo)